quinta-feira, 27 de maio de 2010

Por que Aécio Neves prefere o Senado ou as razões de Aécio para ficar em Minas

Artigo publicado pelo jornalista Carlos Lindenberg na sua coluna no jornal Hoje em Dia esclarece por que Aécio não aceita ser vice de Serra (e ponto!):


As razões de Aécio para ficar em Minas

Por Carlos Lindenberg


Já de volta a Belo Horizonte, o ex-governador Aécio Neves desfez as malas e os sonhos dos tucanos paulistas que o queriam como vice de José Serra. A rigor, coube ao próprio Serra, já informado, possivelmente, da posição de Aécio, dar a deixa, há dois dias, ao dizer que não havia pressão para que o ex-governador de Minas ocupasse a vaga de vice na sua chapa presidencial. Serra, pelo que transpareceu, deixou ainda a porta aberta, mas coube a Aécio, ontem, passar a tramela no assunto.

Não havia razão para ser diferente. Uma das qualidades que se deve admirar no homem público, porque escassa, é a coerência. Ora, Aécio fez de tudo para convencer os tucanos paulistas, e os de outros poleiros, que ele tinha melhores condições políticas do que Serra para enfrentar a candidata de Lula, a ex-ministra Dilma Rousseff. Os partidários de Serra logo levantavam a tese das pesquisas para vetar Aécio, sem levar em conta que o primeiro disputou todas as eleições desde 2002 e até o ano passado, até mesmo uma presidencial, fazendo com que seu nome ficasse na memória do eleitor, enquanto o segundo disputava apenas as eleições regionais, ora para deputado, ora para governador.

O passar dos meses mostrou, como era sabido, que pesquisa não é tudo numa eleição, não pode ser tratada como um bem de valor absoluto. Resultado: Serra começa a perder para Dilma nas pesquisas.

O que Aécio argumentava era que ele, sem menosprezar Serra, de fato um quadro político de valor, tinha maiores condições de agregar valores a uma candidatura tucana, a começar por não cair na armadilha de Lula de querer uma eleição plebiscitária - o que ele vem conseguindo dadas as ligações de Serra com Fernando Henrique e até pelo fato de ser sido ministro do ex-presidente. Com Aécio, argumentava o então governador mineiro, seria diferente. Além do mais, uma candidatura de Aécio quebraria a polarização da política paulista, que joga em confronto direto o PT e o PSDB, ambos originários de São Paulo, onde disputam até eleição na Sociedade São Vicente de Paulo.

Mas nada disso foi levado em conta por Serra e pelos seus adeptos, de forma que até as prévias pedidas por Aécio lhe foram negadas, não restando outro caminho ao ex-governador de Minas senão a disputa de uma vaga ao Senado. Contudo, Serra continuou esperando que Aécio, por razões não conhecidas, pudesse voltar atrás. Ele não o fará por várias razões:primeiro, pela coerência; segundo, porque precisa se dedicar com afinco à eleição de seu antigo vice e hoje governador, Antonio Anastasia, de forma que só quem não conhece os políticos mineiros seria capaz de continuar alimentando o sonho de uma candidatura a vice para alguém a quem fora negada a titularidade.

A ascensão de Dilma nas pesquisas foi largamente usada pelos tucanos e seus simpatizantes, alguns deles na grande Imprensa, como instrumento de pressão contra Aécio. Por pouco não se criou a lenda de que uma eventual derrota de Serra seria de responsabilidade de Aécio. Bobagem pura. Primeiro, porque a eleição não está decidida; segundo, porque a opção pelo ex-governador José Serra, todos sabiam, trazia em si mesma o risco da polarização ensaiada pelo presidente Lula e que tem sido fundamental para viabilizar, quem sabe antes da hora, a candidatura da ex-ministra Dilma. Ademais, de pouco adiantaria uma eventual vice-presidência para Aécio se isso pudesse custar, por exemplo, a vitória de Anastasia em Minas.

O que alguns precisam entender, gostem ou não, é que Aécio tem um projeto de médio e longo prazos que passa pela vitória de Anastasia ao Palácio da Liberdade e pela simultânea eleição dele ao Senado. Daí para diante, são outros quinhentos. Embora nisso se deva incluir também uma oportuna vitória de Serra sobre Dilma em Minas Gerais - ou quando muito uma derrota por pequena diferença. O ex-governador deve saber, no entanto, que, embora bem avaliado, ele tem adversários poderosos no Estado e que não devem ser subestimados, sobretudo num cenário em que Dilma vem se sobressaindo de maneira inesperada para muitos.

Em outras palavras, Aécio vai ter que se dedicar e muito às eleições em Minas, daí a advertência de Anastasia há dois dias, ao dizer que Minas precisa do ex-governador aqui. Pra bom entendedor, um pingo é letra, apesar das nuvens da política.


Fonte: Jornal Hoje em Dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário