Artigo publicado pelo jornalista Carlos Lindenberg na sua coluna no jornal Hoje em Dia esclarece por que Aécio não aceita ser vice de Serra (e ponto!):
As razões de Aécio para ficar em Minas
Por Carlos Lindenberg
Já de volta a Belo Horizonte, o ex-governador Aécio Neves desfez as malas e os sonhos dos tucanos paulistas que o queriam como vice de José Serra. A rigor, coube ao próprio Serra, já informado, possivelmente, da posição de Aécio, dar a deixa, há dois dias, ao dizer que não havia pressão para que o ex-governador de Minas ocupasse a vaga de vice na sua chapa presidencial. Serra, pelo que transpareceu, deixou ainda a porta aberta, mas coube a Aécio, ontem, passar a tramela no assunto.
Não havia razão para ser diferente. Uma das qualidades que se deve admirar no homem público, porque escassa, é a coerência. Ora, Aécio fez de tudo para convencer os tucanos paulistas, e os de outros poleiros, que ele tinha melhores condições políticas do que Serra para enfrentar a candidata de Lula, a ex-ministra Dilma Rousseff. Os partidários de Serra logo levantavam a tese das pesquisas para vetar Aécio, sem levar em conta que o primeiro disputou todas as eleições desde 2002 e até o ano passado, até mesmo uma presidencial, fazendo com que seu nome ficasse na memória do eleitor, enquanto o segundo disputava apenas as eleições regionais, ora para deputado, ora para governador.
O passar dos meses mostrou, como era sabido, que pesquisa não é tudo numa eleição, não pode ser tratada como um bem de valor absoluto. Resultado: Serra começa a perder para Dilma nas pesquisas.
O que Aécio argumentava era que ele, sem menosprezar Serra, de fato um quadro político de valor, tinha maiores condições de agregar valores a uma candidatura tucana, a começar por não cair na armadilha de Lula de querer uma eleição plebiscitária - o que ele vem conseguindo dadas as ligações de Serra com Fernando Henrique e até pelo fato de ser sido ministro do ex-presidente. Com Aécio, argumentava o então governador mineiro, seria diferente. Além do mais, uma candidatura de Aécio quebraria a polarização da política paulista, que joga em confronto direto o PT e o PSDB, ambos originários de São Paulo, onde disputam até eleição na Sociedade São Vicente de Paulo.
Mas nada disso foi levado em conta por Serra e pelos seus adeptos, de forma que até as prévias pedidas por Aécio lhe foram negadas, não restando outro caminho ao ex-governador de Minas senão a disputa de uma vaga ao Senado. Contudo, Serra continuou esperando que Aécio, por razões não conhecidas, pudesse voltar atrás. Ele não o fará por várias razões:primeiro, pela coerência; segundo, porque precisa se dedicar com afinco à eleição de seu antigo vice e hoje governador, Antonio Anastasia, de forma que só quem não conhece os políticos mineiros seria capaz de continuar alimentando o sonho de uma candidatura a vice para alguém a quem fora negada a titularidade.
A ascensão de Dilma nas pesquisas foi largamente usada pelos tucanos e seus simpatizantes, alguns deles na grande Imprensa, como instrumento de pressão contra Aécio. Por pouco não se criou a lenda de que uma eventual derrota de Serra seria de responsabilidade de Aécio. Bobagem pura. Primeiro, porque a eleição não está decidida; segundo, porque a opção pelo ex-governador José Serra, todos sabiam, trazia em si mesma o risco da polarização ensaiada pelo presidente Lula e que tem sido fundamental para viabilizar, quem sabe antes da hora, a candidatura da ex-ministra Dilma. Ademais, de pouco adiantaria uma eventual vice-presidência para Aécio se isso pudesse custar, por exemplo, a vitória de Anastasia em Minas.
O que alguns precisam entender, gostem ou não, é que Aécio tem um projeto de médio e longo prazos que passa pela vitória de Anastasia ao Palácio da Liberdade e pela simultânea eleição dele ao Senado. Daí para diante, são outros quinhentos. Embora nisso se deva incluir também uma oportuna vitória de Serra sobre Dilma em Minas Gerais - ou quando muito uma derrota por pequena diferença. O ex-governador deve saber, no entanto, que, embora bem avaliado, ele tem adversários poderosos no Estado e que não devem ser subestimados, sobretudo num cenário em que Dilma vem se sobressaindo de maneira inesperada para muitos.
Em outras palavras, Aécio vai ter que se dedicar e muito às eleições em Minas, daí a advertência de Anastasia há dois dias, ao dizer que Minas precisa do ex-governador aqui. Pra bom entendedor, um pingo é letra, apesar das nuvens da política.
Fonte: Jornal Hoje em Dia.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
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